Liderança

Nosso estilo de personalidade determina diretamente nosso estilo de liderança, assim como grande parte de nossas formas de atuação no mundo profissional. É comum um líder acabar impondo à sua organização ou à sua área boa parte das características do seu tipo do Eneagrama. Trata-se de um estilo de liderança. Quando temos consciência do nosso estilo e do estilo de outros líderes que interagem conosco, podemos usar esse conhecimento a favor dos relacionamentos interpessoais e do desenvolvimento das equipes, em prol de uma liderança madura e sustentável.

Tendências na liderança

A liderança como facilitadora, voltada ao team building, direcionada para orientar as pessoas a atingir em equipe e de modo estruturado a missão da organização. Uma busca permanente por harmonia, cooperação e união no grupo, que pode levar a equipes de alto desempenho, com sentido de direção. Um líder que atua muito mais como facilitador, como coach — que conduz a equipe ao desenvolvimento e a resultados por meio de um trabalho em grupo e de cooperação — do que como dono de posições autoritárias e individualistas. Essas características representam o líder do tipo 9.

Seu modo natural de tomada de decisões é o consenso, ou seja, escuta diversas opiniões e considera múltiplos pontos de vista. Pelo lado positivo, isso leva a decisões analisadas e carregadas de sabedoria. Essas decisões costumam envolver métodos, processos, pesquisa e coleta de dados, para garantir que tudo corra com o mínimo de conflito possível. Não gostam de ser pressionados a tomarem uma decisão rápida, sem que haja tempo para investigações, opiniões e análises.  

Pelo lado negativo, quando for necessário um estilo de liderança de decisões imediatas — no qual o líder deve tomar sua decisão de forma individual, não há tempo para um consenso ou mesmo isso não é esperado pela organização — ou quando, por alguma razão, os conflitos não puderem ser resolvidos em discussão aberta e for preciso uma atitude mais ousada e impositiva, o líder do tipo 9 pode trazer dificuldades e atrasos em suas decisões. Nesses casos, ele se torna indeciso e pode perder oportunidades de ação e resolução. A vontade de ouvir múltiplas opiniões sobre uma situação pode fazê-lo esquecer-se da sua opinião e ficar confuso sobre qual rumo tomar. Se a equipe estiver em meio a um conflito ou sentindo-se sem orientação, pode ser que falte aqui uma “pancada em cima da mesa”.     

Os tipos 9 costumam apreciar trabalhos com estruturação e organização, tendo um estilo de atenção que inicialmente foca os detalhes e depois se expande para o contexto maior. Eles costumam também simplificar os problemas e fazer as coisas ocorrerem da forma mais fluida e tranquila possível, sendo excelentes maratonistas, ou seja, são ótimos na condução de projetos de longo prazo, em que se pode estabelecer uma rotina estruturada, assim como na manutenção de projetos que já passaram pela fase inicial.

Sua liderança é inclusiva, de portas abertas, com grande acesso ao líder. Nela, buscam-se os relacionamentos harmoniosos e de longo prazo, valorizam-se a diplomacia, a paciência e a negociação em vez de a pressão. Embora não seja movido principalmente por reconhecimento ou imagem, o líder do tipo 9 aprecia e se motiva quando é elogiado. Sua grande tendência de evitar brigas pode fazê-lo não entrar e, até mesmo, retirar-se de situações em que existe conflito, ficando este sem uma solução adequada ou esquecido, deixado de lado. De fato, o tipo 9 pode passar “panos quentes” nos problemas ou manterem-no encobertos por, simplesmente, “esquecer-se de mencioná-los”. O conflito positivo, em que é possível ganhos em uma negociação ou mesmo uma motivação da equipe pela competição e pela disputa, raramente é usado como recurso pelo líder do tipo 9.

Outra característica do estilo de personalidade do tipo 9 que aparece também em seu estilo de liderança é a tendência que ele tem de se dispersar e se distrair com tarefas menos importantes do que a sua prioridade imediata. De fato, ele pode acabar focando na resolução de assuntos de menor importância estacionados sobre sua mesa, em detrimento de decisões cruciais de um projeto em andamento, trazendo uma enorme sobrecarga para si quando deseja atender tudo. Sua dificuldade em dizer “não” a pares, superiores hierárquicos e até à sua equipe pode deixá-lo “atolado” em trabalhos que traz para si em vez de delegar, muitas vezes deixando suas tarefas pessoais e prioritárias para o final do dia ou da fila.

Essa procrastinação do que é mais importante normalmente aparece quando o tipo 9 se depara com sobrecarga de trabalho, quando se sente pressionado ou quando sente raiva de uma situação imposta (mesmo não percebendo que está com essa raiva). Aqui aparece sua tendência à agressividade passiva, ou seja, a expressar sua raiva e insatisfação de maneira indireta, não fazendo ou procrastinando o que foi exigido, em vez de questionando abertamente e criando, com isso, conflito de opiniões. Em algumas situações, quando se sente extremamente pressionado por uma decisão autoritária ou por ter sido mandado fazer algo de forma abrupta, o tipo 9 pode expressar a raiva de modo direto, aberto, recusando-se a fazer o trabalho e deixando bem explícito seu incômodo com tudo aquilo. É quando o sangue do tipo 9 realmente sobe. Essa fúria pode também aparecer por meio de ataques pessoais e conflitos com pessoas negativas, competitivas e extremamente autoritárias.  

Em processos de iniciativa e gestão de mudança, os líderes do tipo 9 preferem algo sistemático e planejado, com previsibilidade de rota e, de preferência, com pouca tendência a surpresas ou mudanças de direção bruscas e sem aviso prévio. Se houver necessidade repentina de alterações de rumo, poderá lhes faltar energia e motivação. Eles se apoiam em métodos e rotinas. Além disso, envolvem as pessoas, conquistam adesão, negociam, são inclusivos e preferem que as coisas aconteçam de forma tranquila. Costumam gostar desse processo, embora, quando em um ambiente onde suas funções e o roteiro não estão bem definidos, possam não se sentir autoconfiantes para liderá-lo — isso depende, claro, do seu nível de senioridade e de sua experiência na função.

Desenvolvimento da liderança: temas comuns

Cada um dos estilos de liderança do Eneagrama apresenta pontos fortes, dons naturais, que devem ser usados em prol do negócio. Apresenta também pontos de atenção, trilhas de desenvolvimento, que podem trazer grandes ganhos quando trabalhados. A seguir são mostrados alguns temas comuns no desenvolvimento da liderança desse estilo:

  • Adaptar a comunicação, diminuindo o impacto muitas vezes destrutivo. Moderar o tom de voz, as palavras e as ações conforme a necessidade. Utilizar quebra-gelos e contextualização, além de buscar local e momento adequados para falar o que pretende.
  • Não falar ou agir por impulso ou raiva. Afastar-se para refletir e deixar sua carga emocional baixar antes de tomar uma atitude. Considerar o impacto de suas atitudes na outras pessoas.
  • Abrir-se de fato e ter paciência e tolerância para ouvir as opiniões dos outros sem menosprezá-las. Dar-se conta de que, muitas vezes, tenta impor a sua única verdade para os outros por meio do uso do poder, da força ou da intelectualidade.
  • Desarmar-se. Perceber que encontra inimigos, opositores e acredita que está sendo atacado mesmo quando isso não está acontecendo.
  • Ter coragem para expor suas fraquezas, seus erros e para pedir ajuda — este, talvez, seja o ponto mais difícil.
  • Aceitar a crítica construtiva sem justificar ou negar tanto — pode ser que as pessoas estejam querendo ajudá-lo, e não atacá-lo; portanto, seja humilde, reconheça e aceite isso, cresça com essa oportunidade.
  • Diminuir a necessidade de controlar as pessoas e as coisas. Estabelecer limites. Deixar as coisas correrem mais soltas, delegando a pessoas competentes a escolha da maneira como fazê-las.
  • Perceber que demanda muito de si mesmo e dos outros. Ter cuidado com a exaustão.
  • Controlar as expectativas muitas vezes exageradas que tem de si mesmo e dos outros, para evitar desânimo com os resultados. Fazer o melhor com aquilo que tem.
  • Perceber, de uma vez por todas, que as pessoas são diferentes e tomam decisões de jeitos diferentes. Respeitar isso. (Algumas pessoas vão precisar pensar antes de agir; outras vão precisar expressar suas emoções.) Ter paciência para liderar as pessoas e extrair o melhor de cada uma delas, dentro do ritmo delas.
  • Tomar cuidado com piadas ou uso da superioridade intelectual para fazer os outros se sentirem inferiores.
  • Perceber a vontade de dar o troco para as pessoas que considera injustas. Avaliar previamente os impactos das atitudes que pretende tomar.
  • Não comprar brigas ou disputas que não lhe dizem respeito. Ter cuidado para não ser usado por outras pessoas para ser o valentão que compra as brigas e que, no final, acaba sofrendo as consequências quando os outros se retiram.
  • Planejar, pensar e procurar rotas alternativas para prever obstáculos e desviar deles antes de sair desgovernado para a ação. Às vezes, desviar de um obstáculo pode ser mais fácil e mais eficiente do que destruí-lo pelo uso da força.
  • Evitar testar a força das pessoas logo que as conhece, desafiando-as. Evitar causar má impressão.
  • Dar mais atenção a detalhes importantes com paciência.
  • Perceber quem tem protegido demais na equipe que pode estar criando dependência.
  • Evitar disputas de território e poder, o que pode levá-lo a confrontar superiores e pares, trazendo consequências políticas ruins para sua carreira e equipe.
  • Sentir e admitir seu cansaço e sua tristeza. Aguentar tudo em uma carapaça de força pode ser prejudicial à saúde física e psicológica. A maior força está em mostrar aos outros e a si mesmo sua inocência e fragilidade.
  • Incluir diversão, leveza e relaxamento no seu dia a dia no trabalho. Diminuir a seriedade não significa fraqueza.