Liderança

Nosso estilo de personalidade determina diretamente nosso estilo de liderança, assim como grande parte de nossas formas de atuação no mundo profissional. É comum um líder acabar impondo à sua organização ou à sua área boa parte das características do seu tipo do Eneagrama. Trata-se de um estilo de liderança. Quando temos consciência do nosso estilo e do estilo de outros líderes que interagem conosco, podemos usar esse conhecimento a favor dos relacionamentos interpessoais e do desenvolvimento das equipes, em prol de uma liderança madura e sustentável.

Tendências na liderança

A liderança firme como ferramenta para movimentar montanhas e causar impacto; força e coragem nas decisões que levam para frente uma organização com pessoas competentes, comprometidas, confiáveis e que agem imediatamente — essas são as principais bênçãos na liderança do tipo 8.

Os tipos 8 são pessoas de decisão rápida, instintiva e, às vezes, até impulsiva. Eles confiam tanto em suas decisões que podem se tornar inflexíveis, com tendência a seguir apenas o próprio ponto de vista, a não mudar uma vez que uma rota estratégica esteja traçada. Costumam ser bastante estratégicos, levando em conta os objetivos da organização e o faro que têm para colocar pessoas competentes nos lugares certos, deixando-as fazer o que for preciso.

Além disso, gostam de assumir uma equipe ou um projeto em condições adversas, com grandes desafios, para reverter o caos e controlar as coisas com decisões confiantes e rápidas. Sua liderança é mais pioneira — trata-se de uma liderança muito mais de mudança do que de crescimento no longo prazo, de rotina, de administração. Os tipos 8 gostam de construir coisas do nada e podem ser menos eficientes como líderes em períodos estáveis.

Outra característica dos tipos 8: eles sentem prazer em superar os desafios de forma pessoal e costumam distribuir grandes desafios aos seus subordinados, para que se superem e mostrem a sua força — eles mesmos gostam, de vez em quando, de deixar claro para todos a sua força e o seu poder. Costumam incentivar e cutucar as pessoas para que irem além do que normalmente iriam, usando carisma, persuasão e uma energia que movimenta e contagia todos ao redor. Exigem também sacrifícios, da mesma forma que podem se sacrificar e chegar à exaustão para atingir um resultado. Quando confiam na capacidade e no talento de uma pessoa, fazem de tudo para torná-la líder.

A ideia do líder do tipo 8 é partir para a ação o mais rápido possível, a fim de atingir o objetivo. Seu desejo é impactar, e são os resultados que ele busca na liderança. Têm uma atração pelo poder e são comandantes naturais, embora muitas vezes tenham uma tendência maior ao estilo “comando e controle” do que ao estilo “coaching e consenso”.

Contudo, sua necessidade de controlar os membros de sua equipe, acompanhando-os e sabendo exatamente onde estão, o que estão fazendo e de que maneira, vai somente até o ponto em que passa a confiar no trabalho deles. A pessoa que for por ele testada e mostrar força, capacidade, atitude e confiança receberá total autonomia para desempenhar seu trabalho. Quando ele confia no trabalho da pessoa, perde a necessidade de acompanhá-la e lhe delega responsabilidade. Por outro lado, não trata da mesma maneira as pessoas que não julga competentes. Nesse caso, ele pode controlar cada passo delas com firmeza.  

Os tipos 8 costumam ser extremamente protetores do seu território e de seus subordinados, embora muitas vezes neguem isso ou não o percebam. Como líderes, podem não hesitar em dar um feedback duro e, muitas vezes, até autoritário e impactante para os membros de sua equipe, mas, com certeza, não deixarão que alguém de fora faça isso. Se algum gestor ou qualquer pessoa de outra área falar mal de um dos seus, com certeza ouvirá o que não quer, não importando sua posição na empresa. O líder do tipo 8 não costuma fugir de nenhum embate para proteger seus subordinados, mesmo que isso signifique se indispor com superiores. Essa atitude de proteção pode gerar membros leais e que admiram o líder, criando laços de soldados em um pelotão de guerra. Por outro lado, ela pode tornar alguns subordinados dependentes dessa proteção, especialmente aqueles que forem considerados mais frágeis pelo líder e que não sobreviveriam ou seriam injustiçados em outros lugares.

De fato, o líder do tipo 8 costuma ser amado ou odiado, despertando emoções fortes naqueles que convivem com ele — é amado pelos companheiros que admiram sua força, sua franqueza e sua proteção e odiado por aqueles que se sentem atropelados, atacados, menosprezados e, em casos mais graves, humilhados por sua força e seus ataques verbais.

Ele também não é de muitos elogios e prefere um estilo mais bruto. Não contestar ou criticar já significa que está gostando da atuação ou, pelo menos, pagando pra ver. Costuma testar a força de seus subordinados para ver se eles respondem à altura ou “se escondem embaixo da mesa”, podendo até respeitar mais aqueles que o confrontam, por interpretarem isso como demonstração de força e respeito.

No geral, os líderes do tipo 8 não costumam receber bem críticas ou qualquer apontamento sobre uma possível melhoria que tenham que fazer. Apontar uma falha ou erro pode ser ainda pior. Sua defesa imediata é se justificar e contra-atacar, considerando o outro um opositor. Seu desenvolvimento nesse ponto é bastante produtivo, pois permite que melhorem como líderes e passem a considerar outras verdades diferentes da sua, ampliando sua visão de liderança. 

Desenvolvimento da liderança: temas comuns

Cada um dos estilos de liderança do Eneagrama apresenta pontos fortes, dons naturais, que devem ser usados em prol do negócio. Apresenta também pontos de atenção, trilhas de desenvolvimento, que podem trazer grandes ganhos quando trabalhados. A seguir são mostrados alguns temas comuns no desenvolvimento da liderança desse estilo:

  • Adaptar a comunicação, diminuindo o impacto muitas vezes destrutivo. Moderar o tom de voz, as palavras e as ações conforme a necessidade. Utilizar quebra-gelos e contextualização, além de buscar local e momento adequados para falar o que pretende.
  • Não falar ou agir por impulso ou raiva. Afastar-se para refletir e deixar sua carga emocional baixar antes de tomar uma atitude. Considerar o impacto de suas atitudes na outras pessoas.
  • Abrir-se de fato e ter paciência e tolerância para ouvir as opiniões dos outros sem menosprezá-las. Dar-se conta de que, muitas vezes, tenta impor a sua única verdade para os outros por meio do uso do poder, da força ou da intelectualidade.
  • Desarmar-se. Perceber que encontra inimigos, opositores e acredita que está sendo atacado mesmo quando isso não está acontecendo.
  • Ter coragem para expor suas fraquezas, seus erros e para pedir ajuda — este, talvez, seja o ponto mais difícil.
  • Aceitar a crítica construtiva sem justificar ou negar tanto — pode ser que as pessoas estejam querendo ajudá-lo, e não atacá-lo; portanto, seja humilde, reconheça e aceite isso, cresça com essa oportunidade.
  • Diminuir a necessidade de controlar as pessoas e as coisas. Estabelecer limites. Deixar as coisas correrem mais soltas, delegando a pessoas competentes a escolha da maneira como fazê-las.
  • Perceber que demanda muito de si mesmo e dos outros. Ter cuidado com a exaustão.
  • Controlar as expectativas muitas vezes exageradas que tem de si mesmo e dos outros, para evitar desânimo com os resultados. Fazer o melhor com aquilo que tem.
  • Perceber, de uma vez por todas, que as pessoas são diferentes e tomam decisões de jeitos diferentes. Respeitar isso. (Algumas pessoas vão precisar pensar antes de agir; outras vão precisar expressar suas emoções.) Ter paciência para liderar as pessoas e extrair o melhor de cada uma delas, dentro do ritmo delas.
  • Tomar cuidado com piadas ou uso da superioridade intelectual para fazer os outros se sentirem inferiores.
  • Perceber a vontade de dar o troco para as pessoas que considera injustas. Avaliar previamente os impactos das atitudes que pretende tomar.
  • Não comprar brigas ou disputas que não lhe dizem respeito. Ter cuidado para não ser usado por outras pessoas para ser o valentão que compra as brigas e que, no final, acaba sofrendo as consequências quando os outros se retiram.
  • Planejar, pensar e procurar rotas alternativas para prever obstáculos e desviar deles antes de sair desgovernado para a ação. Às vezes, desviar de um obstáculo pode ser mais fácil e mais eficiente do que destruí-lo pelo uso da força.
  • Evitar testar a força das pessoas logo que as conhece, desafiando-as. Evitar causar má impressão.
  • Dar mais atenção a detalhes importantes com paciência.
  • Perceber quem tem protegido demais na equipe que pode estar criando dependência.
  • Evitar disputas de território e poder, o que pode levá-lo a confrontar superiores e pares, trazendo consequências políticas ruins para sua carreira e equipe.
  • Sentir e admitir seu cansaço e sua tristeza. Aguentar tudo em uma carapaça de força pode ser prejudicial à saúde física e psicológica. A maior força está em mostrar aos outros e a si mesmo sua inocência e fragilidade.
  • Incluir diversão, leveza e relaxamento no seu dia a dia no trabalho. Diminuir a seriedade não significa fraqueza.