Tendências na liderança

A liderança como um conjunto de ações racionais, em que a eficiência é encontrada a partir de um planejamento estruturado de recursos, levando-se em conta a interligação dos sistemas que fazem parte da organização: esse é o estilo preferido do tipo 5 para conduzir às pessoas rumo à missão do negócio — um negócio que cresce também devido ao investimento em conhecimento, pesquisa e eficácia estudada das ferramentas e das pessoas, muito valorizadas por sua competência.

Uma de suas maiores dádivas é a grande capacidade de planejamento e organização na alocação de recursos, voltada para que não haja desperdícios que afetem a eficiência. Esses recursos incluem o tempo necessário para tarefas e para cada projeto, assim como custos, valores de investimento, pessoas e todo tipo de recursos materiais. Sua visão observadora, de quem enxerga o plano de cima e percebe como todo ele se conecta, o ajuda a fazer as distribuições certas de forma precisa, segundo o ângulo do problema que for mais favorável para sua resolução.

Sua análise e seu planejamento ajudam a manter a objetividade rumo à obtenção de um resultado previsto. Os tipos 5 costumam ser líderes organizados que criam planos estruturados, específicos e que monitoram a implementação e os resultados intermediários, propondo correções de rota ao perceberem alguma tendência de desvio. Eles analisam prós e contras e os possíveis impactos de cada decisão. Sua veia analítica atua durante o projeto e mesmo depois de ele ser concluído, para que se possam incorporar as lições aprendidas na eficiência dos próximos trabalhos. Quando essa análise e esse planejamento aparecem de forma excessiva, os projetos podem ficar atrasados ou até mesmo parar, prejudicando os resultados finais e desperdiçando oportunidades que requerem uma decisão mais rápida, instintiva ou intuitiva, sem que necessariamente todas as análises lógicas estejam à mão.

Atraso e frustração aparecem também quando o líder do tipo 5 necessita conhecer todas as variáveis do negócio, do produto ou do mercado antes de tomar um rumo estratégico —na velocidade das mudanças e na complexidade das organizações atuais, já não é possível conhecer todos esses detalhes a fundo antes de dar o passo adiante. De fato, sua visão dissociada, que enxerga a organização, suas pessoas e seus sistemas como se estivessem cuidadosamente detalhados em uma prancheta, ajuda nas decisões estratégicas lógicas, mas pode, ao mesmo tempo, atrapalhar bastante o trato com o mundo real, com as imprevisibilidades do negócio, do mercado e das pessoas, que não funcionam de forma tão mecânica como se fossem peças de um plano. Uma liderança envolve surpresas e comportamentos que podem ser completamente diferentes do que imaginava o tipo 5 em seu plano mental, e ele precisa saber lidar também com isso para ser efetivo.

Sua orientação para decisões costuma ser profundamente mental, sem o envolvimento dos seus centros de inteligência emocionais ou instintivos. Ele costuma chegar às decisões principalmente pensando sozinho, refletindo a partir de seu conhecimento e suas análises, assumindo a responsabilidade e não considerando muito as opiniões e os pontos de vistas de outras pessoas. Como, a seu ver, uma boa decisão é aquela que faz sentido lógico, ele não costuma prever ou levar em conta as reações que as outras pessoas terão em relação a ela, nem mesmo dão importância a isso. Como ignora os próprios sentimentos, parece fazer sentido para ele que as outras pessoas também o façam ao receberem ou tomarem decisões — na verdade, é isso que ele deseja.

Sua abordagem calma e fria nas crises costuma ser outra de suas maiores vantagens. São pessoas que raramente entram em pânico, até mesmo por afastarem-se de suas emoções e manterem a perspectiva lógica. Analisam o problema, suas condições e não raramente tomam decisões muito acertadas nesses momentos, quando as outras pessoas parecem tomadas por desespero e reações emocionais. Nessas horas, aparece uma orientação de delegações, reformulação de planos, comando e atitudes práticas para solucionar os problemas e as emergências dentro do prazo requerido. Se o propósito está claro para o tipo 5 e ele está engajado, ou se sente desafiado a resolver o problema de forma intelectual (como se fosse um jogo de xadrez), pode manter-se focado por bastante tempo, mesmo em períodos de dificuldade.

Por outro lado, a necessidade que o tipo 5 tem de controlar e economizar seu tempo pode transformá-lo em um líder inacessível, que lidera com portas fechadas, mantém audiências predefinidas para tratar dos problemas e exige argumentos lógicos para que consiga enxergar onde eles se encaixam no todo da organização. Com isso, ele pode deixar as pessoas esperando para resolverem questões que dependem de sua interação, gerando um alto backlog, ou seja, uma pilha de tarefas a serem analisadas e uma série de pessoas a serem atendidas. Não há muitas conversas informais pelos corredores para a resolução das questões e muito menos uma iniciativa de sua parte de sair oferecendo sua disponibilidade e ajuda para os outros. A falta de diálogos e feedbacks informais, simplesmente para saber como as coisas e as pessoas estão, pode deixar o líder do tipo 5 desinformado em relação a assuntos importantes da organização que circulam no boca a boca, na “rádio peão” e nos cafezinhos.

Seja como for, esses líderes são admirados pelo seu profundo conhecimento. São poços de inteligência que acumulam informações sobre tudo — produtos, finanças, tecnologias, clientes, concorrentes, estruturas —, como se fossem supercomputadores resolvendo um enorme quebra-cabeça. Eles também costumam respeitar as estruturas de decisão, autoridade e hierarquia na empresa, vendo valor em fazer as coisas do “jeito certo” e segundo as regras estabelecidas. Normalmente, conduzem as pessoas a partir da visão estabelecida pela organização ou de uma visão própria sua, e não por meio da construção real de uma visão compartilhada com as outras pessoas no início dos projetos.
 

Desenvolvimento da liderança: temas comuns

Cada um dos estilos de liderança do Eneagrama apresenta pontos fortes, dons naturais, que devem ser usados em prol do negócio. Apresenta também pontos de atenção, trilhas de desenvolvimento, que podem trazer grandes ganhos quando trabalhados. A seguir são mostrados alguns temas comuns no desenvolvimento da liderança desse estilo:

  • Tornar-se mais disponível emocionalmente para as pessoas da equipe, estando disposto a conversar com mais frequência sobre insatisfações, dificuldades, tristezas, carências, alegrias e celebrações quando o assunto ou a oportunidade surgir, sem precisar que uma reunião seja pré-agendada para tratar da questão. Quando alguém puxar esse tipo de assunto, em vez de cortá-lo, conectar-se a ele e à pessoa, ouvir e conversar sobre isso por alguns minutos, a qualquer hora. Compartilhar calor humano e intimidade é importante.
  • Ser mais flexível quanto ao planejamento — o planejamento detalhado de ações, cronogramas e recursos a serem alocados é um orientador; pode ser necessário alterar muito disso ao longo do caminho. Ser capaz de tomar novos rumos em função dos imprevistos, mesmo que pareçam incertos à lógica do planejamento. Usar mais a intuição, o instinto e a fé.
  • Diminuir a necessidade de certezas, pesquisas e previsibilidade quanto a tudo o que ainda vai acontecer — querer ter todas as informações pode ser paralisante diante de oportunidades inesperadas. Agir bem mais rapidamente.
  • Andar mais pela empresa e conversar mais de modo informal. Mostrar-se aberto, puxar conversa, almoçar com pessoas diferentes, aparecer nas confraternizações e, definitivamente, participar de mais happy hours. Os elementos “informalidade” e “proximidade” são fundamentais para aumentar a influência da liderança, por isso é preciso cuidado com o isolamento excessivo. Relacionar-se bem é fundamental para um líder eficaz.
  • Permitir-se ser espontâneo. É possível falar de qualquer coisa com as outras pessoas, não apenas de ideias lógicas.
  • Desenvolver a comunicação, a persuasão e o marketing pessoal. Fazer cursos de boa qualidade nas áreas de PNL (programação neurolinguística), oratória, persuasão e vendas.
  • Encontrar um assunto ou área em que não está conseguindo um bom desempenho como líder e pedir ajuda a alguém da organização. Praticar pedir auxílio e ajuda — a necessidade de resolver tudo sozinho pode gerar atrasos e reinvenção de soluções que já existem. Usar outras pessoas como fontes de informação.
  • Envolver as pessoas da equipe na criação da visão, da missão e dos valores, fazendo esses elementos emergirem de forma compartilhada. Agir para que as pessoas saibam, de forma clara, a visão do líder para o negócio e para elas — isso costuma ser muito mal comunicado pelos líderes tipo 5.
  • Comunicar-se muito mais com a equipe. Em vez de manter as ideias somente na cabeça, comunicá-las de forma mais clara e viva, indo além das palavras e usando desenhos, filmes, apresentações, campanhas, histórias e principalmente expressões corporais — é importante usar os braços, o corpo, o tom de voz e o movimento para se comunicar (os líderes do tipo 5 têm que ter cuidado com a tendência de falar sem mexer o corpo; eles precisam se mexer bastante!)
  • Deixar claro para os outros que gosta e precisa de tempo para tomar decisões que não estavam previstas e que isso não significa que elas não serão tomadas ou que não estão sendo dadas a elas a importância e a urgência necessárias. Deixar claro suas decisões.
  • Considerar o lado humano sempre antes de dar uma notícia difícil. Comunicar essa notícia de forma mais amável, mais sensível, levando em conta os sentimentos das outras pessoas envolvidas. Nessas ocasiões, as outras pessoas precisam de uma certa preparação e sentem um impacto emocional maior do que o tipo 5.
  • Comemorar mais com as pessoas e dar muito mais feedback positivo, incentivando-as e dizendo como o trabalho foi bem realizado. Muitas pessoas se sentem desvalorizadas, esquecidas ou incompetentes quando trabalham com um tipo 5 por este ter um foco muito maior nos aspectos a serem melhorados do que nos que já estão bons ou naquilo que foi conquistado. Pode ser muito frustrante esperar reconhecimento dos líderes do tipo 5, o que provoca afastamento e desengajamento da equipe.
  • Aprender a reconhecer e a usar as indicações do corpo quando este sinaliza as decisões certas a serem tomadas. Ser flexível para mudar, inclusive, decisões já previamente tomadas pela cabeça. Não tomar uma decisão importante sem perguntar também ao coração e ao corpo o que eles acham. É preciso treino e prática para reconhecer esses sinais dos outros centros de inteligência.
  • Garantir que a sala esteja sempre aberta e que haja tempo na agenda todas as semanas para receber informações da equipe referentes aos projetos em andamento. Os líderes do tipo 5 precisam ter cuidado com a tendência de acharem que todos são autossuficientes e que, uma vez explicado o projeto no início, caminham por conta própria. Esse pode ser o maior desvio na liderança do tipo 5. É preciso estar presente sempre para as outras pessoas, caso se deseje ser líder delas.
  • Falar claramente com a equipe sobre seus medos e preocupações, bem como sobre seu otimismo e alegria. Eles precisam disso e não apenas dos planos, das cobranças e das estratégias. Incentivá-los a dizer o mesmo. Certificar-se de que está presente e ouvindo atentamente as respostas.