Liderança

Nosso estilo de personalidade determina diretamente nosso estilo de liderança, assim como grande parte de nossas formas de atuação no mundo profissional. É comum um líder acabar impondo à sua organização ou à sua área boa parte das características do seu tipo do Eneagrama. Trata-se de um estilo de liderança. Quando temos consciência do nosso estilo e do estilo de outros líderes que interagem conosco, podemos usar esse conhecimento a favor dos relacionamentos interpessoais e do desenvolvimento das equipes, em prol de uma liderança madura e sustentável.

 

Tendências na liderança

A liderança como centro de comando, visibilidade e poder é a posição que mais agrada o tipo 3, que muitas vezes a disputa e faz de tudo para consegui-la, mesmo que isso represente um esforço e uma dedicação sobre-humanos.

De fato, o tipo 3 mantém seu olhar direcionado para o objetivo final, não gostando de interrupções ou de qualquer coisa que possa representar um atraso em seu sucesso. Para atingir a meta, não importam as oposições ou dificuldades: ele está sempre buscando a competição e pode enxergar os outros como competidores, especialmente se houver um cargo ou uma promessa de visibilidade para quem cruzar primeiro a linha de chegada. Quando só há uma vaga disponível, podem ocorrer disputas pelo poder ou uma movimentação para outra posição, onde o sucesso é mais garantido. Não é raro o líder do tipo 3 optar pelo trabalho com mais possibilidade de sucesso, mesmo que isso represente o abandono de um prazer maior na função anterior.

Com a crença de que “eu posso fazer as coisas acontecerem”, frequentemente ele se coloca como sabendo as respostas e o melhor caminho, não admitindo qualquer tipo de menção ao fracasso e demonstrando uma enorme autoconfiança em sua capacidade de realizar (mesmo que isso não seja exatamente o que ele sinta por dentro). Qualquer risco que represente possibilidade real de sucesso sempre vale a pena para o tipo 3. Essa confiança inspira os liderados, que naturalmente se motivam e aceleram para conquistar mais.

O tipo 3 também costuma se adaptar facilmente aos mais diferentes ambientes, moldando-se àquilo que for necessário para atingir uma melhor performance, comunicando, conseguindo informações que possam ser úteis e fazendo networking. Exímio na arte de divulgar suas próprias realizações e as de sua equipe, ele pode aproveitar-se de ideias e conquistas “sem dono”, tomando para si o crédito. Normalmente, os tipos 3 não são os maiores criadores ou inovadores, mas sabem transformar uma ideia em um negócio lucrativo — e ficam atentos a essas oportunidades em qualquer conversa.

Eles investem no conhecimento da estrutura política, de poder e de escalada da organização. Pessoas-chave e influentes são vistas como uma possibilidade interessante de relacionamento, e os tipos 3 podem investir nessas relações como forma de apoio social. Eles podem também focar exclusivamente nas tarefas e nos resultados, negligenciando o tempo para aprofundamento de relações pessoais não diretamente ligadas ao seu trabalho.

Na ânsia por resultados rápidos, muitas vezes os tipos 3 atropelam o controle de qualidade. E, ao delegar, eles esperam essa mesma postura, podendo adotar uma atitude de cobrar insistentemente a cada cinco minutos, não dar folga e querer estar envolvido no trabalho e nas decisões de seus subordinados. Podem acreditar que as coisas só dão realmente certo se passarem pela sua mão, gerando centralização e dependência da liderança, o que atrapalha a formação de líderes substitutos, especialmente os que têm estilo diferente do seu.

As pessoas do tipo 3 também são extremamente sensíveis a críticas e à aceitação por parte de clientes, baseando muitas vezes sua estratégia nas tendências de mercado e nas necessidades deles. Assim, se o seu trabalho não atende às expectativas dos clientes, gerando reclamações ou qualquer coisa que possa atingir sua imagem de sucesso, elas podem se sentir bastante frustrados. Mas logo empurram esses sentimentos para o lado e adotam uma nova estratégia! Os tipos 3 também são sensíveis aos seus concorrentes, dedicando atenção a eles com medo de serem superados.

Como já observado, eles se identificam profundamente com a marca e a empresa para as quais atuam, se esforçando para conhecer o negócio, sua estrutura e sua cultura, assim como sua posição e as tendências de mercado. Outras marcas são vistas como concorrentes até mesmo em sua vida pessoal — se trabalhar na Coca-Cola, dificilmente o tipo 3 terá Guaraná Antarctica na geladeira de casa.

Sua tendência é ir rapidamente para a ação e a obtenção de resultados, o que faz com que muitas vezes falhe na criação de uma visão compartilhada e no amadurecimento de sua equipe. As decisões são tomadas racionalmente em nome da eficiência e do caminho mais curto de A para B, com metas específicas e táticas ligadas a elas. Quando obcecados pelos resultados, podem ser vistos como ríspidos, insensíveis e não disponíveis por seus liderados.  

Finalmente, sua orientação prática para o sucesso, sua grande dedicação e seu entusiasmo fazem com que os tipos 3 sejam bastante reconhecidos e aprovados no meio empresarial. Eles adoram e são motivados por esse reconhecimento — ter o nome na capa de uma revista, conquistar o novo cargo importante ou construir um império empresarial que veio do nada. Sua liderança energizada, baseada em uma estrutura de funções e metas claras, costuma trazer alta performance para a equipe. 

Desenvolvimento da liderança: temas comuns

Cada um dos estilos de liderança do Eneagrama apresenta pontos fortes, dons naturais, que devem ser usados em prol do negócio. Apresenta também pontos de atenção, trilhas de desenvolvimento, que podem trazer grandes ganhos quando trabalhados. A seguir são mostrados alguns temas comuns no desenvolvimento da liderança desse estilo:

  • Aumentar gradativamente os atributos de uma liderança baseada no coaching, preocupando-se mais em extrair as respostas da sua equipe do que em direcioná-la a fazer as coisas do jeito que acha melhor. O líder do tipo 3 costuma ser muito diretivo e mostrar como as coisas devem ser feitas, controlando, pressionando e se envolvendo o tempo todo nos assuntos. Um estilo voltado para ajudar a aprender, em vez de oferecer respostas prontas, vai contribuir para o desenvolvimento da equipe nos quesitos confiança, competência e autonomia. Para isso, o líder do tipo 3 precisa buscar uma formação como coach e praticar essas habilidades em sua liderança.
  • Delegar cada vez mais, gerenciando pelos prazos e resultados e com uma distância maior da equipe. Para isso, o líder do tipo 3 precisa enfrentar sua crença vaidosa de que as coisas só acontecem quando ele coloca a mão na massa. Ele precisa também se dar conta do quanto essa crença o limita, fazendo com que tenha menos tempo para si e para desenvolver uma equipe mais competente.
  • Importar-se de fato com as pessoas e demonstrar isso por meio de atitudes. Isso significa cultivar relacionamentos sem necessariamente estar ligado a um interesse imediato de conquista e dedicar mais tempo aos relacionamentos. Com isso, o líder do tipo 3 será mais respeitado e conseguirá maior comprometimento no médio e no longo prazos.
  • Praticar a enorme coragem de deixar a equipe conhecer o seu verdadeiro “eu” e as suas verdadeiras emoções, desvinculando-se do exagerado apego à imagem de sucesso, daquele que nunca fracassa. Desse modo, o líder do tipo 3 será visto como ser humano e conseguirá real apoio.
  • Desenvolver paciência, empatia e tolerância com as pessoas que, supostamente, têm um ritmo mais lento. Escutar com mais atenção e tratar melhor essas pessoas.
  • Diminuir a necessidade de aprovação, atenção e admiração, focando-se mais na realização interna e, com isso, passando a ter mais liberdade para ser quem realmente é. Dissociar sua identidade pessoal daquela imagem de sucesso que criou e acredita ser.
  • Aprender a utilizar as diferenças de visão e até mesmo de velocidade para conseguir resultados mais por meio da equipe e menos por meio de sua centralização. Melhores resultados nem sempre estão ligados a mais velocidade em se fazer as coisas. Muitas vezes, eles têm a ver com mais sinergia e direcionamento do grupo.
  • Acessar cada vez mais as suas verdadeiras emoções, compartilhando-as com a equipe e pedindo sua ajuda quando necessário. Permitir-se mostrar a verdade sobre si para os outros, aproximando-os em um relacionamento humano. Praticar ser paciente e manter-se presente diante da demonstração de sentimentos fortes dos outros.
  • Aprender a alavancar mais resultados pela cooperação, equilibrando-a com o excesso de competitividade. Encorajar cada vez mais o engajamento e a participação da equipe, em vez de somente pressioná-la. É importante aprender a gostar de liderar equipes.
  • Investir mais tempo no planejamento e na análise de riscos, tendo coragem de reconhecer as possibilidades de um projeto não dar certo ou ter imprevistos. Aprender a usar o planejamento para aumentar seus acertos e até seus resultados. A vontade de sair correndo do líder do tipo 3 pode atrapalhá-lo, fazendo com que não enxergue o sistema maior ao redor. É preciso entender que a direção pode ser mais importante do que a velocidade.
  • Promover o equilíbrio entre a vida pessoal, a família, a saúde e o trabalho, evitando o foco desequilibrado na carreira, no sucesso e nas aspirações materiais. A falta de equilíbrio costuma gerar consequências graves na saúde e nos relacionamentos familiares e de amizade das pessoas do tipo 3, causando arrependimentos por vezes muito tarde em sua jornada. É importante perceber o verdadeiro valor de coisas como amizade e família, bem como se dar conta de que a felicidade e a realização vindas apenas da conquista material e do sucesso são ilusões.
  • Aumentar o foco nas pessoas e no modo como ajudá-las a crescer, equilibrando essa atitude com a tendência de colocar a carreira e o sucesso individual sempre em primeiro lugar.
  • Buscar no trabalho uma realização maior, um significado de contribuição espiritual com a humanidade e o planeta. Procurar não apenas o suposto sucesso que vem da apreciação externa, mas também a realização interna de estar fazendo a sua parte para o desenvolvimento da consciência do planeta.
  • Procurar a arte e a sensibilidade, conectando-se mais com a beleza, o ritmo e a sabedoria da vida. É importante o tipo 3 levar isso para si mesmo e, em seguida, para seu trabalho como líder.
  • Levar mais tempo para tomar decisões importantes. É fundamental deixar que ideias surjam e percepções mais amplas se apresentem antes de sair correndo. Vale a pena também aprender a ler as decisões do corpo e os sinais que o sistema maior universal envia sobre que direção seguir. Velocidade e ânsia demais não permitem percepções desse tipo.
  • Descobrir do que realmente a alma gosta e com o que ela se preenche. É importante levar isso em conta nas escolhas ligadas à carreira e à liderança. De fato, o ideal é evitar escolher as coisas somente pela possibilidade de projeção, sucesso e retorno, considerando também a satisfação de valores internos mais profundos, muitas vezes não ouvidos ou deixados de lado em nome das buscas externas.
  • Assumir os medos e inseguranças, em especial o medo do fracasso, do anonimato, de não ser aceito e admirado pelo outro, de não ser o primeiro lugar e não ser amado por isso. Essa aceitação diminui o estresse do tipo 3 e alivia suas cargas de liderança.
  • Aprender a ver as coisas a partir de uma perspectiva sistêmica, envolvendo outras pessoas e outras áreas da vida e levando tudo isso em conta na tomada de decisão.