Tipo 2 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
O tipo 2 está ligado pelas flechas do Eneagrama aos tipos 4 e 8. Seu desafio é realizar um movimento consciente para adquirir características do tipo 4 (ligadas a dar atenção a si mesmo e reconhecer suas próprias necessidades) e, em seguida, desenvolver positivamente algumas características do tipo 8 (como fazer o que precisa ser feito sem se preocupar com a imagem e usar a raiva para reconhecer seus próprios objetivos e brigar por eles, e não apenas pelos objetivos dos outros).
Nesse sentido, seu primeiro movimento deve ser o de internalização emocional ligado ao ponto 4 do Eneagrama. Toda a sua atenção e dedicação emocional costumam estar voltadas para fora de si, para os outros. Aqui, elas devem ser voltadas para dentro, para suas próprias vontades, sentimentos, dores, carências. Trata-se de sentir a si mesmo, assim como sente os outros. Somente depois de ter vivenciado com coragem parte dessa dor que vem lá no fundo, sentindo-se rejeitado e obrigado a fazer as coisas esperando retribuição, e que poderá realizar, de forma sustentável, o movimento em direção ao ponto 8 do Eneagrama, levando seu excesso de energia do coração para o corpo, para a força instintiva e animal do centro da barriga. Nesse momento, o tipo 2 adquire poder, energia corporal, respeito e praticidade. Além disso, estabelece limites fortes e saudáveis entre si mesmo e os outros.
O tipo 2 também tem que se voltar para a prática de ser autêntico e verdadeiro consigo mesmo, sem precisar ficar se moldando e assumindo vários modos de ser para agradar aos seus eleitos. Amor tem a ver com aceitação, e não com adaptação. Assim, ele precisa perguntar para si: “O que eu realmente quero?”, “Qual a minha verdadeira necessidade?”, “O que eu faria se não tivesse que agradar a ninguém?”, e seguir as respostas a essas perguntas.
É muito importante para o tipo 2 perceber o sentimento de orgulho que tem em ser fundamental na vida dos outros e como se preocupa com isso. Ele precisa ver que essa atitude de fazer o tempo todo pelos outros, adulando-os, pode gerar pessoas dependentes, que não se sentem livres para seguir seus próprios caminhos e acabam não crescendo de verdade. Em poucas palavras, o tipo 2 precisa dar liberdade aos outros para que eles sejam independentes dele.
De fato, o desafio do tipo 2 é reconhecer que tem uma enorme vontade de ser cuidado pelos outros, de ser visto. Ele precisa reconhecer que, no fundo, possui uma grande carência e uma crença de que não merece ser amado pelo que é, e sim pelo que faz pelo outro. Uma vez reconhecido isso, é fundamental que o tipo 2 verbalize suas necessidades aos outros e às pessoas amadas, saiba pedir e aceitar a ajuda deles e também saiba dizer “não” quando estiver indo além de seus limites.
Pode ser dolorido para o tipo 2 entrar em contato com essa emoção de não ser aceito como é. Contudo, isso gera muito crescimento para ele, que passa a cuidar de si mesmo da mesma maneira que cuida dos outros e acaba percebendo que é muito mais aceito do que imagina por aquilo que é, sem precisar de tanto esforço para ser prestativo. Nesse momento, o tipo 2 também aprende a lidar com a raiva que aparece quando se sente rejeitado ou quando perde alguém.
Outro movimento importante para o tipo 2 é a incorporação de sua asa no ponto 3, o que faz com que ele adquira um foco maior nos resultados, no sucesso e nas conquistas, aceitando posições de destaque, liderança e autoridade com mais conforto. Trata-se de sair da posição de ajudante/influenciador em segundo plano e dar um passo à frente, para o centro do palco. A incorporação da asa 1 também tem sua importância, gerando organização, praticidade e foco tão dedicado nas tarefas e nos processos como aquele que mantém nas pessoas.
Para o tipo 2, é importante aprender a ficar sozinho e a cuidar de si mesmo, valorizando-se e amando-se independentemente da pessoa com quem se relaciona. Ele precisa dar valor principalmente aos relacionamentos fáceis, com pessoas que lhe façam bem, e insistir menos em relacionamentos que trazem muitas dificuldades.
Por fim, é libertador tanto para o tipo 2 como para os outros saberem que ele não é indispensável e não precisa estar sempre tão emaranhado em sentimentos e envolvido em tudo o que se passa a seu redor. É ótimo quando ele percebe que é hora de se preocupar consigo mesmo, de ter os seus próprios projetos em vez de só dar suporte aos outros. Liberdade, para deixar que o verdadeiro amor se expresse para si e para as outras pessoas.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 2. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Aceite cuidados e mimos de outras pessoas — um pequeno presente, uma massagem, uma ajuda para fazer a comida ou finalizar um trabalho.
- Tente ficar um pouco sozinho todos os dias. Nesse momento, dedique-se exclusivamente a si mesmo e pergunte: “O que eu realmente quero da minha vida, considerando que não preciso agradar a ninguém?” Com isso, vai somar pelo menos 30% a mais de tempo ao momento que costuma ficar sozinho semanalmente.
- Desenhe em um papel um círculo com o seu nome e vários outros círculos com o nome das pessoas que são as suas eleitas ao redor. Qual delas pode estar se tornando dependente de você por sua atenção excessiva? Tente interferir menos na vida dessa pessoa e também dizer “não” a ela em uma próxima vez em que pedir ajuda.
- Pratique tomar decisões com a cabeça e com o corpo, e não só com o coração.
- Pelo menos uma vez por semana, compre um pequeno presente para você — presente este que só você goste e só você use (não vale comprar nada para agradar a alguém).
- Faça um plano de desenvolvimento para sua carreira e coloque-o como prioridade. Contrate um coach.
- Faça exercícios físicos por sua saúde, por você, e não somente por sua beleza ou para estar ao lado de pessoas. Visite o médico com mais regularidade. Perceba que o orgulho o faz muitas vezes ir além de seu equilíbrio físico e emocional para agradar aos outros.
- Assuma alguns projetos e tarefas profissionais em que tenha que trabalhar mais sozinho.
- Faça a seguinte conta: nos últimos seis meses, veja quanto gastou comprando coisas para os outros ou para si mesmo visando agradar aos outros e quanto gastou comprando coisas para você, ligadas aos seus projetos próprios. Equilibre esses valores.
- Faça a mesma conta sugerida no tópico anterior, mas agora leve em conta o uso do seu tempo livre. Como aproveitou os seus finais de semana? Equilibre esse tempo.
- Chame uma pessoa de quem você gosta para conversar e, durante pelo menos 15 minutos, fale somente sobre você e a ajuda de que precisa no momento.
- Ame-se e dedique-se a si mesmo em primeiro lugar.
- Anote em um papel o nome das cinco pessoas a quem você mais se dedica hoje. Em seguida, anote os três comportamentos ou atitudes a que recorre com mais regularidade para agradar a cada uma delas. Com muita coragem, pergunte-se: “Quando eu estou fazendo isso, além da parte do carinho, o que estou esperando receber em troca? De que forma estou cobrando esse retorno, mesmo sem perceber?” Anote as respostas.
- Dedique um horário na semana para examinar sua autoestima e como pode estar tentando aumentá-la com a atenção que recebe de outras pessoas. Imagine uma luz branca saindo do centro do seu coração e o energizando, proporcionando-lhe cuidado e aceitação. Nesse caso, sessões de terapia, com um profissional adequado, trarão enormes benefícios, bem como uma sensação de liberdade e bem-estar.
- Tente fazer com que seus filhos, funcionários e pessoas estimadas fiquem mais tempo sem a sua presença. Encoraje viagens, decisões ou mesmo momentos com uma companhia que não seja você — e tenha certeza de que essa pessoa foi escolhida por eles, e não por você. Observe, pense e pratique sentir a felicidade dessas pessoas mesmo quando não estão próximas a você. Concentre-se nessa felicidade, na felicidade do outro. A necessidade de fazer parte da vida do outro é, no fundo, sua, e não do outro.
- “Dependência não é amor.” “O verdadeiro amor é livre de compromissos.” Reflita sobre o que essas frases podem acrescentar em sua vida hoje.
- Quando estiver sentindo a paciência com os outros diminuir e tendo súbitos acessos de raiva e reclamações, colocando a culpa de tudo nos outros, perceba que está extremamente estressado. Nesse momento, descanse, afaste-se da sobrecarga física e emocional. Gaste um tempo sozinho, investigando o que de fato está sentindo — será que não há rejeição e tristeza por trás disso? Viva esses sentimentos e os expresse com alguém de confiança, que o acolha e o ouça.
- Peça, com frequência, ajuda para aqueles que você ama. Diga que está cansado e que precisa de atenção. Perceba, nesse momento, o medo que tem de que essas pessoas se afastem — é o orgulho, que impede essas atitudes. Aceite tudo isso em si mesmo com amor e naturalidade e siga em frente. Essa é uma prática de humildade, muito importante para as pessoas do tipo 2.
- Identifique uma pessoa (ou grupo) que o afeta muito, como se fosse quase impossível não voltar toda a sua atenção para ela. Essa pessoa deve despertar a sensação de que, se você não fizer algo, ela se afastará de você. No próximo encontro com ela, planeje o tempo todo respirar com mais tranquilidade, na barriga, sentir os pés no chão e fazer somente um terço das coisas que tem vontade de fazer com ela. Nos dias seguintes, analise o que aconteceu e como se sentiu. Perceba o que pode aprender com isso.
Tipo 3 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
Desafios gerais de crescimento
O tipo 3 pertence à tríade da imagem (pontos 2, 3, 4) e também ao triângulo central do Eneagrama, estando ligado aos pontos 6 (tríade mental — seu ponto de segurança ou impulso) e 9 (tríade instintiva — seu ponto de estresse ou desafio). Seu primeiro movimento deve ser de acesso a características do ponto 6, dando mais atenção a valores ligados a grupo, cooperação, amizade e família do que àqueles diretamente relacionados aos resultados que almeja.
Outra questão importante no acesso ao ponto 6 é ter coragem de olhar para dentro e admitir as inseguranças, os medos e as incertezas. Perguntas como “Será que eu vou mesmo conseguir? E se eu não for aceito e admirado pelas pessoas? E se eu fracassar?” fazem parte de uma investigação verdadeira da parte real da personalidade do tipo 3 — parte esta que costuma ficar escondida pelos afazeres incessantes e acelerados do dia a dia. Na medida em que acolhe, aceita e investiga seus medos reais, o tipo 3 pode se tornar mais verdadeiro e consciente em sua busca.
Seu movimento seguinte está ligado ao ponto 9, ou seja, à diminuição de seu ritmo no intuito de gerar empatia real e respeito pela velocidade dos outros, assim como respeito à sua própria saúde física. É importante o tipo 3 praticar a paciência, com base na noção de que nem todas as coisas da vida precisam de sua mão para acontecer — após a semente ser plantada, existe um tempo para o crescimento da árvore, e esse crescimento depende da terra, da chuva e da sua natureza, e não do tempo que se estipula para isso. Desse ponto também vêm o verdadeiro espírito de equipe, o trabalho em grupo e a cooperação.
Das suas asas, os pontos 2 e 4, também há aprendizados e integração a serem realizados. Da asa 2 vêm uma atenção e uma sensibilidade maior às necessidades dos outros, uma postura maior de ajuda e apoio ao próximo. Da asa 4 parte a busca de um significado maior no que faz, um significado de missão de vida, e não somente a procura de resultados e sucesso. Aqui, há também a incorporação de uma veia artística e da busca do belo, assim como um mergulho maior em si mesmo para viver e sentir suas emoções intensas.
Para as pessoas do tipo 3, é um enorme desafio reconhecer e enfrentar seus verdadeiros sentimentos, especialmente os difíceis, como medo e tristeza. É também muito complicado permitir e acolher a expressão desses sentimentos, havendo a tendência de colocá-los de lado para cuidar da vida prática. Nos momentos em que esses sentimentos surgirem, o tipo 3 deve aprofundar sua relação consigo mesmo, olhar para dentro de si, e não apenas para a imagem que construiu. Ele deve ter coragem de procurar quem realmente é por trás do sucesso e das metas conquistadas. Deve também tomar cuidado para não voltar seu foco ao trabalho, a uma nova conquista, desviando a atenção dos momentos em que esses sentimentos mais profundos aparecerem e ele for tomado por um grande desconforto.
É importante para o tipo 3 tomar consciência de uma força interior enorme que o obriga a realizar algo — com isso, ele vai, ao menos por algum instante, se permitir não fazer nada, não buscar “aproveitar” o tempo para produzir. É importante também para ele perceber quanto do real valor que se dá acaba colocando nas mãos do reconhecimento das outras pessoas, no sucesso público ou nos bens materiais que acumula, e muitas vezes sem nem se permitir questionar quem realmente é ou o que realmente quer da vida!
De fato, o tipo 3 precisa perguntar, de verdade, se a meta que está buscando, muitas vezes com exagerada pressão, serve para si mesmo ou para a valorização da imagem que quer ter. E é um grande desafio para ele desvincular as duas coisas, compreender que aquilo que é e a imagem que cria são coisas diferentes. Quando consegue fazer isso, contudo, o tipo 3 encontra o que dá prazer e permite-se aproveitar esse prazer, sem se preocupar tanto com o que isso representa para os outros. Ele também passa a apreciar o gosto da realização, comemorar e curtir cada conquista a seu tempo, e não correr imediatamente para a próxima.
Para concluir, o tipo 3 deve dedicar tempo para refletir sobre o fato de a vida não ser uma enorme e desgastante fuga do fracasso. Há as relações com os outros, um prazer nas coisas simples e anônimas e uma busca do verdadeiro propósito espiritual da vida. É importante ele entender que toda imagem e toda conquista material passarão e que é na busca do conhecimento e da satisfação consigo mesmo — assim como no aprofundamento das relações e da dedicação desinteressadas às pessoas amadas — que poderá encontrar um aprendizado real e uma felicidade verdadeira.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 3. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Reconheça a enorme dificuldade que tem em ficar parado, sem estar realizando nada.
- Sente-se em uma cadeira por cinco minutos, de frente para a parede, e perceba a enorme quantidade de pensamentos apressando você. Em sua maioria, são pensamentos ligados a coisas que você tem que fazer. Perceba a ansiedade do seu corpo e da sua respiração e o desgaste que isso causa. Perceba que essa sensação acompanha você 24 horas por dia. Entenda a importância de descansar e diminuir o ritmo.
- Preste atenção em quanto você pensa nos outros quando está realizando um trabalho ou tem uma ideia; perceba que você imagina como vai impactá-los e como será admirado. Mensure quanto do seu esforço é para alimentar essa imagem.
- Analise sua vida e a divida em alguns quadrantes: carreira, dinheiro, saúde, amigos e família. Quanto tempo gasta com cada um desses quadrantes por dia? Quanto de seu dinheiro investe em cada um?
- Dedique mais tempo à sua família e a amigos antigos, perdidos ao longo do tempo. Lembre-se de que o tempo investido na família é aquele que você passa 100 por cento dedicado a ela, e não a hora extra ou o curso que está fazendo para melhorar a condição financeira. Não se iluda: isso é para você. Pessoas querem tempo e atenção, e não dinheiro, especialmente as crianças.
- Pratique exercícios físicos que não envolvam apenas competição e tenha coragem de escolher aqueles de que você gosta, e não aqueles em que se sai melhor ou vão deixá-lo mais bonito.
- Busque práticas que levem sua respiração a se tornar mais lenta e aprofundada, como yoga, tai-chi-chuan e meditação.
- Pratique ficar 15 minutos sem agir todos os dias. Dizer que “não tem tempo” é apenas mais uma armadilha para a qual deve estar atento. Qualquer pessoa consegue encontrar 15 minutos para si. Se acha que não consegue, preste mais atenção ainda.
- Preste atenção aos seus comportamentos no trabalho. Que impactos negativos a sua pressa causa nas pessoas? Em quais?
- Respire ao parar para conversar com as pessoas. Diminua por um instante o ritmo e ouça, sem se preocupar com o resultado que isso vai trazer para você.
- Invista no autoconhecimento. Faça cursos, frequente grupos, vá à terapia. Descubra quem você é de fato por trás da imagem. Você vai ter medo, vai ser difícil. Mas, no final, você terá uma maravilhosa recompensa.
- Plante uma árvore ou algumas flores. Cuide delas todos os dias e perceba-as crescendo lentamente, no ritmo da natureza.
- Não fuja nem arranje nada para fazer quando sentir tristeza ou medo, mesmo que do fracasso. Apenas por alguns instantes respire no centro do coração e sinta isso. Emoções são a sua natureza, e elas são como água — vêm e vão quando você permite que se expressem.
- Demonstre, com mais coragem ainda, essas emoções no formato que elas vierem, sem maquiá-las. Comece com as pessoas em que você confia. Elas vão amá-lo e admirá-lo ainda mais por isso.
- Exercite participar de um jogo, de uma equipe, exercendo a função de suporte, sem se destacar. Perceba o prazer do “nós ganhamos” no lugar do “eu venci”.
- Dance mal, no meio dos outros, e não se preocupe com o que estão achando. Seja feliz com isso.
- Tente por um dia não falar “Eu fiz”, “eu farei”, “o meu”, “a minha” e assim por diante. Nesse dia, apenas ouça os outros.
- Entenda que, quando você corre demais para chegar ao destino final, perde toda a beleza da paisagem do caminho.
TIPO 4 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
Desafios gerais de crescimento
O tipo 4 pertence à tríade das emoções (ou imagem) do Eneagrama, estando ligado ao ponto 1 (seu ponto de segurança ou impulso) e ao ponto 2 (seu ponto de estresse ou desafio). Possui como asas (vizinhos no círculo) os pontos 3 e 5.
Seu primeiro movimento deve ser de acesso a características do ponto 1, ligado ao desenvolvimento de praticidade no relacionamento com a vida. Com isso, sua energia oscilante e emocional do coração distribui-se para o corpo e ele pode, então, entrar em ação — fazer o que precisa ser feito, mesmo que isso seja rotineiro, comum demais ou chato; fazer uso da disciplina para organizar suas ações, bem como para realizar as tarefas e atingir as metas necessárias para efetuar, de fato, seus ideais criativos. Ele desce das nuvens coloridas e sobe dos buracos negros para o mundo real, onde pode se preencher e se satisfazer de verdade ao realizar seus propósitos e sua visão cheia de significados. Vive o agora e faz a tarefa de agora, com menos devaneios no momento da ação.
O movimento seguinte do tipo 4 é em direção ao ponto 2, quando ele tira a energia de seu peito concentrada em suas próprias emoções e experiências e a coloca em direção às experiências e às necessidades dos outros. Trata-se de um movimento de sair do mergulho isolado em seu mundo interno e saltar para fora, olhando para os outros, entendendo suas reais necessidades, os enxergando e os aceitando. Nesse momento, o tipo 4 passa a dedica-se aos outros tanto quanto se dedica a si mesmo. Ele passa também a incentivar as conquistas dos outros e a ficar feliz com a realização deles. Naturalmente, ele se desapega da sensação de que algo está faltando, de vazio e de abandono e se sente preenchido.
De suas asas, os pontos 3 e 5, também há integração e aprendizados a serem realizados. Do ponto 3, o tipo 4 deve integrar a busca pelas conquistas, a superação, a confiança e a determinação para atingir suas metas. Do ponto 5, ele deve buscar a uso da razão e do intelecto para tomar decisões, assim como a estabilidade emocional, o conhecimento e a informação.
Pode ser um grande desafio para o tipo 4 satisfazer-se com a vida que tem. Há uma constante insatisfação com as pessoas, com as coisas e consigo mesmo, o que torna muito difícil para ele valorizar aquilo de simples que já tem. Aqui, a questão é não se apegar a essa sensação, não se perder nela, caindo em desânimo e falta de motivação. É verdade que há um ganho para o tipo 4 ao desmotivar-se ou boicotar-se: ele se torna vítima do mundo externo, chama a atenção dos outros para si e se transforma em alguém especial. Isso, contudo, afeta aqueles com quem o tipo 4 se relaciona, que podem se desdobrar para satisfazê-lo sem nunca de fato conseguir. O tipo 4 deve aprender a valorizar aquilo que recebe dos outros e agradecer explicitamente, mesmo que não seja “tudo aquilo que sonhou”. A atitude real é mais importante que a idealização.
O grande desafio para o tipo 4 é manter o ânimo e as ações práticas. Ele precisa encontrar aquilo que o motiva e traçar um plano concreto para chegar lá, mantendo-se perseverante diante das desilusões que com certeza vão aparecer ao longo do caminho e até mesmo após a conquista do objetivo. Deve educar seus olhos para encontrar beleza naquilo que já tem e que é real e palpável. Deve tornar-se responsável por manter sua própria motivação. Deve também evitar as lamentações e o drama baseados em circunstâncias que não pode mudar, focando naquilo que depende exclusivamente de si mesmo e fazendo sua parte agora, sem tantos questionamentos e com persistência nos momentos de desânimo ou falta de significado — se deseja realizar seus sonhos, na alegria ou na tristeza, ele deve aprender a continuar.
O tipo 4 também deve se esforçar para praticar uma comunicação clara com outros, não partindo do princípio de que imagina o que os outros sentem ou de que os outros imaginam o que ele sente. Deve haver conversa, diálogo e expressão clara em palavras antes de conclusões próprias baseadas em sentimentos. É importante elevar todo esse mundo de sonhos e de sensações a um patamar de comunicação específica, que possa ser entendido pelos outros — ou seja, é importante traduzir a arte em palavras ou desenhos claros.
Também é um desafio para o tipo 4 mudar de verdade. Muitas vezes, ele fica limitado pela crença de que, se mudar, se perder as características que tanto o fazem “único”, perderá a sua individualidade e se tornará igual aos outros. Essa crença pode se tornar algo altamente limitante em seu caminho de crescimento, já que uma parte sua, mesmo que inconscientemente, não vai querer mudar e pode boicotar o processo, entrando em conflito com a outra parte que quer crescer, se desenvolver e se desidentificar do tipo.
Nesse sentido, é importante o tipo 4 compreender que o que nos torna únicos é a nossa essência espiritual e que isso nada tem a ver com nossos comportamentos, reações, habilidades e aparência. Podemos mudar nossos comportamentos, nossas crenças e até nosso modo de ver o mundo e, ainda assim, a individualidade da nossa essência permanecer inalterada e maravilhosa. Nós não somos nossos comportamentos, não somos nossas reações, não somos nem mesmo o que acreditamos hoje, pois tudo isso muda com o processo natural de desenvolvimento. Nós somos muito mais do que tudo isso.
Seja como for, é um tremendo desafio para o tipo 4 não se comparar com os outros. Ele pode perder muito tempo e muita energia olhando para os outros e sentindo que eles têm coisas que ele não tem — um trabalho melhor, uma maior autoconfiança, mais atenção do chefe, mais desenvoltura ao falar com os outros. O desafio é educar-se a abandonar esse desperdício de energia e voltar o foco para si mesmo. Independentemente do que o outro é ou faz, o tipo 4 deve se perguntar qual o próximo passo em seu desenvolvimento, o próximo passo que não depende de mais ninguém. Ele deve se comparar apenas a si mesmo e perguntar: “Como eu posso ser melhor hoje do que eu fui ontem?” Essa é a única resposta construtiva e que o interessa. Ao perguntarem ao sábio qual era a melhor fruta do mundo (mamão, maçã, banana, limão, pêra e todas as demais), ele simplesmente respondeu: “Depende de qual suco escolhermos hoje para o almoço”.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 4. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Reconheça que sua atenção vai para aquilo que não tem e que, ao se concentrar tanto nisso, acaba desvalorizando ou simplesmente nem percebendo o que já tem.
- Considere essas quatro áreas: carreira, relacionamento amoroso, amizades e bens materiais. Crie duas listas para cada delas, respondendo: (1) Quais coisas eu já tenho nesta área que me satisfazem plenamente? (2) Quais coisas ainda estão faltando nesta área para que eu fique satisfeito? É importante responder intuitivamente como se sente em relação a cada área. Preste atenção em sua tendência de focar-se muito mais nas coisas que ainda estão faltando.
- Adquira ferramentas práticas ligadas à gestão do tempo e à organização. Use uma agenda predefinida na semana para orientar suas atividades, incluindo as rotineiras. Essa agenda deve incluir as atividades que são importantes e que você não gosta de fazer. Deve ser apontada uma meta clara de resultado e dedicação de tempo para cada uma dessas atividades.
- Faça uma lista das coisas que você não gosta de fazer no seu trabalho, assim como das que gosta. Certifique-se de que também haja tempo dedicado para as atividades de que não gosta.
- Faça trabalhos voluntários que exijam dedicação de tempo para ajudar os outros. Pode ser em uma creche, em um hospital ou em qualquer outra causa com a qual você possa se comprometer e que possa se disciplinar para seguir.
- Reeduque o seu pensamento para se encorajar e se elogiar mais. Diga para você mesmo várias vezes por dia e escreva em lugares onde possa ler sempre frases como: “Você tem muito valor”, “Você é amado por várias pessoas”, “Você tem uma vida cheia de coisas boas”, “Você teve um ótimo resultado”.
- Dedique-se a atividades altamente criativas e que expressem suas emoções. Se não tiver isso em sua carreira, dedique-se a um hobby. Você pode tocar um instrumento, cantar, pintar quadros, desenhar, escrever poesias e participar de peças de teatro, expressando toda a sua intensidade.
- Pratique yoga, esforçando-se para manter a atenção e a concentração no presente. O mesmo vale para outras práticas corporais e de respiração consciente, como a técnica do renascimento. O importante é estar conectado e consciente em relação ao corpo.
- Pratique técnicas e atividades de enraizamento e disciplina, como aikido, judô e tai chi chuan.
- Pratique esportes que exijam perseverança, constância e disciplina, como natação e balé clássico. Esportes coletivos também são importantes.
- Arrume a mesa do escritório e o quarto diariamente. Faça isso todas as vezes que começar a sentir a intensidade e o vazio emocional, mesmo que seja difícil a princípio. Perceba como esse vazio diminui quando a atividade prática e rotineira é realizada. Seja persistente e disciplinado para fazer isso.
- Sente-se na sala de sua casa e preste atenção em todos os detalhes de que gosta exatamente do jeito em que estão. Faça o mesmo na cozinha, no quarto, no jardim.
- No próximo encontro com a esposa, o marido, o namorado ou a namorada, passe todo o tempo prestando atenção nas qualidades dessa pessoa que você admira. E diga a ela quais são essas qualidades.
- Marque um encontro com um amigo ou alguém da sua família que você poderia ajudar. Dedique um tempo a apenas ouvi-lo, sem encaminhar a conversa para os seus assuntos, e ajude-o como puder.
- Invista em autoconhecimento. Faça cursos, frequente grupos ou vá à terapia. Descubra que, com disciplina, perseverança e pé na realidade, é possível conquistar sonhos e deixar você mesmo e os outros à sua volta mais felizes.
- Pratique a simplicidade de vez em quando: use roupas comuns, interaja com pessoas comuns e visite lugares comuns, onde você não se sinta o centro das atenções.
- Participe de grupos ou comunidades de trabalho mútuo, onde você apenas faz parte da equipe, sem se destacar ou se sentir de fora ou abandonado.
- Pratique falar menos de suas experiências nas conversas. Diminua o número de “meu”, “minha”, “eu” e assim por diante.
- Assista mais a comédias no teatro e no cinema, de preferência àquelas bem bobas e superficiais, para equilibrar sua profundidade.
- Perdoe mais rapidamente. Não abra a boca para dizer nada para alguém quando estiver magoado ou com raiva. Espere passar. Você vai machucar o outro, se arrepender depois e gastar tempo se culpando. Diga tudo somente depois que a tempestade tiver passado e você já foi capaz de ponderar sobre a questão.
- Deixe claro para as pessoas que convivem com você para não insistirem no diálogo quando você estiver em seu “inferno astral”. Elas precisam aprender a esperar a maré passar.
- Perceba como as pessoas que o amam tentam e tentam satisfazê-lo e muitas vezes não conseguem. Imagine o tamanho da frustração! Demonstre sua gratidão a elas.
- Não leve a si mesmo nem à sua imagem tão a sério. Faça piada com os seus próprios dramas e exageros emocionais. Isso vai ajudar muito.