Tipo 1 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
Desafios gerais de crescimento
O tipo 1 está ligado aos tipos 7 e 4 (ponto de desafio e estresse), o que faz com que seu principal caminho de desenvolvimento esteja ligado à espontaneidade, ao lazer, à diversão, à flexibilidade, à criatividade e a um mundo de permissão, aceitação, leveza e novidades.
Os principais aspectos de desenvolvimento do tipo 1 têm a ver com a aceitação de si mesmo como ele é, de suas próprias “falhas” e também das “falhas” dos outros. Aceitação de que tudo no universo é “perfeitamente imperfeito” e deve ser visto, reconhecido e amado assim como é, sem a necessidade de ser corrigido ou modificado. Levar a vida menos a sério pode ser mais produtivo do que se imagina.
O primeiro e importante desafio do tipo 1 é acessar os elementos do ponto 7, seu ponto de impulso. Isso tem a ver principalmente com a aceitação dos prazeres em sua vida, sem culpa. E não se trata apenas dos prazeres mentais, mas também dos físicos, os quais normalmente são, em parte, bloqueados por uma dinâmica corporal inconsciente de rigidez em seu corpo. Permitir-se mais lazer e espontaneidade, sem se preocupar tanto com o que “precisa ser feito’, “é sua responsabilidade” ou “é o certo”. Aceitar seu verdadeiro desejo de também sujar sua roupa e se atirar na lama com as outras crianças, sem se preocupar tanto com as punições. Fazer isso como um direito seu e de todas as outras pessoas. O direito natural e divino de todo ser humano de acessar a sua parte criança, em seu sentido mais bonito.
Seu movimento seguinte é em direção ao coração, ao seu centro da inteligência emocional. Para isso, ele usa o ponto 4 do Eneagrama, seu ponto de desafio. Aprender a acessar as suas emoções leves e positivas, como o amor, a ternura e a gratidão. Aprender a trabalhar com o coração, libertando-se das emoções que aparecem em forma de rigidez corporal e da tensão que aparece nos ombros e na face. Deixar ir, sentir o alívio. Esse ponto representa também uma conexão com um significado maior para a vida, que vai além das obrigações. Permitir-se fazer o que gosta, o que quer fazer, e não apenas o que “tem que fazer”. Um olhar maior para a beleza e para a poesia da vida, e não apenas para a sua parte prática.
De suas asas, os pontos 9 e 2 também trazem aprendizados e integração a serem alcançados. De sua asa 9, podem ser incorporadas a paciência e a abertura para ouvir as opiniões dos outros. Um senso de agir em grupo, de forma coletiva, compartilhando visão. De sua asa 2, pode vir principalmente o foco nas pessoas e nos relacionamentos, no entendimento dos sentimentos dos outros e de seus próprios, além de um grande toque de simpatia, sedução e flexibilidade.
Trabalhar a formação reativa, um mecanismo de defesa da personalidade, também é um ponto crucial de desenvolvimento. Para o tipo 1, isso necessariamente passa por um trabalho corporal e psicológico de permissão de expressão de sua raiva e de seus prazeres que tem como objetivo ensinar o corpo a fazer isso e ajudar a mente a aceitar com naturalidade, e não com base em culpa. Também o coração precisa entrar com compaixão em relação à si mesmo.
O tipo 1 precisa perceber que o crítico que o acompanha está em sua própria cabeça, exigindo demais, e não deveria ser levado tão a sério. Ele deve transformar essa voz em um coach, que aconselha, encoraja e apoia, em vez de julgar e criticar.
Também é importante para o tipo 1 tomar consciência das sensações de “tenho que resolver as coisas” e “alguém está me vigiando ou me criticando”, dar um passo para trás quando isso acontecer e perceber que isso é uma criação sua, e não uma coisa que está realmente acontecendo. Ao fazer isso, aceitando com amor e sem julgamentos a si mesmo, ele naturalmente vai aceitar mais os outros e seus modos de ver a vida, tornando-se mais tolerante e flexível. Além disso, vai cobrar menos, exigir menos e ser menos bravo e ressentido.
O tipo 1 deve ver suas qualidades e as qualidades dos outros, olhar para as coisas procurando o que está bom e o que está satisfatório. Deve fazer tudo de forma mais leve, sem o peso do “ser perfeito”. Além disso, deve se abrir para novas maneiras de fazer as coisas, de ver a vida, e ficar curioso para conhecer as opiniões dos outros e novos estilos de vida, de coração aberto e sem prejulgamento. E deve aceitar os trabalhos que não estão 100% perfeitos, mas que estão aceitáveis para as outras pessoas e cumprem o seu propósito — é o melhor que se pode fazer com os recursos que se tem no momento.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 1. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Reconheça a voz crítica que fala dentro de sua cabeça e procure levá-la menos a sério todas as vezes que ela se manifestar. Perceba que ela não é você.
- Perceba quanto força sua cabeça e seu corpo e, ao mínimo sinal de tensão, permita-se um pouco de lazer e descanso. Aprenda a reconhecer essa tensão em um corpo já bastante rígido e que, muitas vezes, só sente isso depois de muita carga.
- Busque ver coisas positivas nos outros. Todos os dias escolha uma pessoa e preste atenção somente nas coisas “certas” e “boas” que ela faz. Anote em um caderno o que você observar e depois dê a ela um feedback positivo.
- Brinque com crianças segundo a regra e as atividades estabelecidas por elas.
- Peça mais opiniões dos outros e fique curioso para ouvi-las.
- Quando ficar magoado, irritado ou frustrado, fale para os outros logo no início. Eles vão aceitar você e você vai se sentir melhor com isso.
- Pratique danças não estruturadas (biodança, por exemplo) que envolvam improvisos e flexibilidade, aceitação e liberação de tensões corporais.
- Reserve tempo para lazer, esporte e viagens para lugares novos, desconhecidos — e lembre-se de que não há necessidade de controlar o roteiro.
- Faça massagem, alongamento muscular e relaxamento, com liberação da tensão acumulada nos ombros, na jugular e na face.
- Faça teatro clown e oficinas de criatividade, onde não existem erros ou roteiros.
- Perdoe mais a si mesmo e aos outros, levando em conta que “cada um faz o melhor que pode com os recursos que tem no momento”. Separe as atitudes das pessoas de suas intenções.
- Todos os dias reserve um tempo para cuidar de si, atender aos seus desejos e caprichos, mesmo que eles sejam poucos e que pareçam a você supérfluos e sem utilidade. Vale assistir à televisão, caminhar, ouvir música, ler revistas, se divertir, não fazer nada — qualquer coisa que não tenha ligação com trabalho e que você não precise se preocupar em fazer benfeito. Não abra mão desse tempo por nada.
- Erre mais, muito mais. Crie novas coisas a partir de seus erros.
- Prefira “ser feliz” a “ter razão” e pare de se preocupar com quem está “certo” ou “errado”.
- Não leve a vida tão a sério.
- Aprenda a respirar. Isso pode ser feito na yoga, com técnicas de renascimento, ou de diversas outras maneiras. Seu corpo precisa de exercício de desbloqueio e expansão da respiração.
- Use técnicas para permitir a expressão do prazer instintivo em seu corpo. Desbloqueie o acesso ao ponto hara— centro de prazer do corpo humano — por meio de uma respiração nesse ponto, que fica a alguns centímetros abaixo do umbigo. Normalmente a respiração da pessoa do tipo 1 vai somente até a altura do estômago, não se permitindo descer livremente além desse ponto. Técnicas de Tantra são uma das inúmeras possibilidades indicadas.
Tipo 8 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
Desafios gerais de crescimento
O tipo 8 pertence à tríade do instinto (corporal) do Eneagrama, estando ligado ao ponto 2 (seu ponto de segurança ou impulso) e ao ponto 5 (seu ponto de estresse ou desafio). Possui como asas (vizinhos no círculo) os pontos 7 e 9.
Seu primeiro movimento — e talvez um de seus maiores desafios — consiste em acessar o ponto 2, ou seja, entrar em contato com suas emoções, levando o excesso de energia jogado em seu corpo para o centro do seu coração. Trata-se de um trabalho de mergulhar por trás da couraça dura, da força que aguenta tudo, e se permitir sentir suas emoções mais suaves, sua tristeza, seu medo, assim como sua ternura e sua grande vontade de receber colo e cuidados, sendo corajoso para assumir e pedir isso (não precisar ser forte o tempo todo). Trata-se também de acessar um carinho suave para cuidar dos outros, ouvi-los e apoiá-los, tratando-os com delicadeza.
Esse movimento todo costuma ser muito difícil para o tipo 8 que está em desenvolvimento, pois sua crença de que suavidade significa fraqueza e de que os fracos são injustiçados pelos fortes vai fazê-lo lutar para manter sua guarda alta a fim de se proteger dos ataques (que, muitas vezes, só existem na sua cabeça). Além disso, seu mecanismo de negação atuará fortemente, negando todo e qualquer tipo de emoção suave que ele esteja reprimindo, como insegurança, medo e tristeza. Aparecerá também um grande medo de ser destruído ou traído por aqueles a quem ele mostrar sua vulnerabilidade. Esse é um movimento muito bonito de crescimento, o qual faz com que o tipo 8 se torne suave, pleno e flexível, mostrando uma força interior real que vem da alma, e não uma desgastante força física de escudo de proteção.
Seu movimento seguinte é em direção à cabeça, ao centro de inteligência mental, mais especificamente ao ponto 5 do Eneagrama. Ele pode juntar a suavidade emocional do ponto 2 com a energia do seu corpo e direcionar a mistura de tudo isso para sua mente, trazendo uma enorme clareza para seus pensamentos. De fato, fica natural para o tipo 8 diminuir a impulsividade e recolher-se para pensar antes de agir, planejar e analisar as consequências de suas ações antes de tomá-las. Ele passa também a observar mais as coisas e as pessoas antes de se movimentar e adquiri uma maior capacidade de estimular as discussões e as pessoas por meio de suas palavras, pensamentos e lógica, sem a necessidade de dominar pela força ou sair atropelando. A paciência para adiar e esperar por suas vontades aumenta. O distanciamento emocional o permite ver claramente questões que não conseguiria ver no calor da raiva e da impulsividade.
Das suas asas, os pontos 7 e 9, há também aprendizados e integração a serem realizados. Da asa 7, os tipos 8 podem incorporar mais diversão, flexibilidade e leveza, menos seriedade para lidar com as coisas e as pessoas e uma grande vontade de experimentar coisas novas e se abrir para novas opções de comportamento e soluções para os problemas. Da sua asa 9, eles podem incorporar a paciência de ouvir todas as opiniões de forma verdadeiramente aberta e com disposição para entendê-las, levando-as em consideração. Podem incorporar ainda a capacidade de construir equipes, atuar como coach e envolver todas as pessoas do grupo em uma energia de harmonia e fluidez, sem imposições.
Grande parte do desafio do tipo 8 tem a ver com a suavização da sua energia emocional da luxúria, do exagero, da crença de que somente com impacto as coisas acontecem e têm valor. Trata-se de ele aprender a moderar o seu impacto, de perceber que o uso de sua energia pode ser ajustado — afinal, levantar uma pena é uma coisa; levantar um elefante, é outra. O tipo 8 precisa perceber seu impacto no tom de sua voz, na pressa em conseguir as coisas e no uso que faz da força para impor sua opinião e demarcar seu território.
Esse processo envolve o entendimento e a diminuição do uso da negação. O tipo 8 precisa perceber até que ponto está negando a existência em si de sentimentos mais frágeis (amor, ternura, medo, tristeza), negando pontos em que precisa se desenvolver — negando sua inflexibilidade diante das opiniões dos outros e em favor da sua “verdade”, negando o excesso de proteção em relação a algumas pessoas em particular, negando a necessidade de dar o troco (vingança) para aqueles que considera injustos, negando que acaba chamando e provocando brigas que, muitas vezes, não valem a pena por disputa de espaço e poder.
É um processo de suavização e de acesso a pontos considerados frágeis que, na verdade, trazem uma força e uma aceitação ainda maiores para o tipo 8, equilibrando suas relação consigo mesmo e com os outros.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 8. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Pratique parar por um instante quando sentir um impulso de raiva, buscando entender o que há por trás disso no seu coração. Verifique se há qualquer tipo de medo, tristeza ou insegurança por trás. Fale um pouco sobre isso, mesmo que sozinho. Perceba como sua energia suaviza e sua impulsividade diminui.
- Converse com alguém em que confia sobre esses sentimentos e qualquer outra fragilidade que se permita sentir. Pode não ser fácil, mas é importante. Pratique falar sobre esse assunto por pelo menos 15 minutos, uma vez por semana.
- Encontre alguém em que você confia muito e que respeita e o adote como conselheiro. Encontre-se com essa pessoa regularmente e pergunte a ela o que acha da maneira como você age no dia a dia e de alguma atitude impactante que tenha tomado nos últimos tempos, de preferência que essa pessoa tenha presenciado.
- Faça uma atividade de relaxamento. Deve fazer parte de sua rotina diária passar pelo menos 15 minutos respirando de forma profunda. Pode ser com música, em silêncio ou mesmo em uma caminhada solitária.
- Perceba o papel que você desempenha em sua família. Veja de fora a dinâmica entre você, seus filhos, seus pais, seu cônjuge etc. Quando você age com dominação? O que ou quem você tenta controlar? Com quem você costuma disputar poder e autoridade? Faça um desenho e escreva suas conclusões sobre isso.
- Preste atenção ao seu ambiente de trabalho. Que disputas está comprando ou já comprou que não pertencem a você? Qual o impacto disso? Existe conflito com colegas ou superiores hierárquicos? Qual a consequência disso?
- Visite a natureza, uma praça ou um parque todas as semanas, um lugar de movimento tranquilo e pouco barulho. Note a harmonia das pessoas nesse local. Observe as demonstrações de bondade e boa intenção que elas têm umas com as outras. Encontre pelo menos três ações diferentes. O que isso quer dizer?
- Encontre as áreas da vida em que você tem praticado mais excessos: relacionamento, família, alimentação, trabalho, lazer etc. O que está sendo usado em excesso? Tempo, impulsividade, energia, quantidade? Quanto isso cansa você? Qual o impacto disso para as pessoas próximas? Escreva as respostas que vierem em um papel e as analise nas próximas semanas.
- Caso pratique um esporte coletivo ou qualquer outra atividade em grupo, experimente ficar um dia em uma posição de apoio, sem falar ou dar ordens, com a função exclusiva de manter a harmonia entre todos. Anote todas as percepções que você tiver logo após essa experiência.
- Pratique escutar a versão das coisas contadas pelos outros e perceba quanto pode estar focando demais na sua própria versão e verdade. Em casa, pergunte o ponto de vista de seus filhos e cônjuge em relação a algum assunto que gerou discussão na última semana. Vale o mesmo para o trabalho, com alguns membros da equipe. Esteja aberto para escutar de verdade e questione as suas verdades. O que você aprendeu com isso?
- Pratique moderar seus impulsos amanhã. Por 24 horas, espere dez segundos antes de interferir, por meio de fala ou ação, em algo que esteja acontecendo.
- Pense em cada um de seus irmãos, filhos, pais ou membros de sua equipe. Quem lhe parece mais frágil? Quem você acredita que não sobreviveria bem sem a sua proteção? Tome consciência de que pode estar contribuindo para gerar pessoas dependentes. Até que ponto sua proteção causa dependência? O que você poderia fazer de diferente a partir de agora? Lembre-se de que essas pessoas podem não ser tão frágeis quanto parecem e que a maior ajuda talvez seja deixá-las crescer.
- Peça mais desculpas às pessoas. Pratique isso agora mesmo, em casa e no trabalho. Amanhã, escolha uma situação de cada área para fazer isso. Como você se sentiu depois?
- Pratique deixar os outros comerem antes de você no próximo café da manhã, almoço ou jantar em sua casa. Se você é aquele que serve as pessoas, procure não servi-las e deixá-las fazer isso em seu próprio tempo. Como foi essa experiência para você?
- Abrace alguém por dez minutos seguidos. Não faça força nos abraços, apenas receba. Deixe que a força do abraço do outro seja maior que a sua, que deve ser suave.
Convide cinco amigos para falarem sobre um assunto polêmico, do qual têm opiniões divergentes. Pratique escutar todas as opiniões e ver a discussão aumentar sem interferir, sem falar. Apenas ouça por cerca de 20 minutos. Você consegue entender o ponto de vista de todos eles? Pratique escrever um resumo dos cinco diferentes pontos de vista presentes nessa brincadeira. Não leve o seu em
Tipo 9 - Caminhos de desenvolvimento
O Eneagrama não é apenas um sistema que descreve tipos ou tendências de personalidade. Ele é também um sistema completo e complexo de desenvolvimento, que aponta caminhos viáveis e produtivos de expansão da nossa personalidade e de libertação de hábitos limitantes, permitindo nosso crescimento integral como profissional e ser humano. Com ele, não só descrevemos a cela, mas também mostramos o mapa de saída da prisão pelo acesso mais indicado — só não podemos caminhar pelos outros.
Como parte do mapa de crescimento, apresentamos a seguir os desafios e as práticas recomendadas, além de uma metáfora e de uma oração perfeitamente adequadas para o caminho que precisamos trilhar no nosso desenvolvimento pessoal.
Desafios gerais de crescimento
O tipo 9 pertence à tríade instintiva (corporal) do Eneagrama, estando ligado ao ponto 3 (seu ponto de segurança ou impulso) e ao ponto 6 (seu ponto de estresse ou desafio). Possui como asas (vizinhos no círculo) os pontos 8 e 1.
O primeiro movimento e um dos maiores desafios do tipo 9 é acessar o ponto 3. Esse acesso significa, em primeira instância, atingir seu centro emocional e sentir as frustrações e a tristeza decorrentes de todas as vezes que se colocou em último lugar da fila, esqueceu-se de si mesmo e, por consequência, de todos os seus projetos e sonhos, que não foram para frente por causa disso. Esse sentimento deve ser vivenciado no peito, sentido no corpo pelo tipo 9, em um movimento de lembrar-se de si mesmo, individualizar-se e voltar sua atenção para si.
Essa tristeza costuma, muitas vezes, dar origem a um sentimento corporal de raiva, um nó no estômago, que surge no tipo 9 por ele não ter feito o que queria fazer. Esse é um momento muito precioso e que deve ser aproveitado, pois é exatamente essa energia de força da raiva que pode ser canalizada e impulsionada para as ações que precisam ser tomadas. Se o tipo 9 tiver habilidade ou mesmo um coach que o oriente, esse momento poderá ser um fantástico ponto de partida para que ele se torne um grande protagonista de sua própria história.
O ponto 3 do Eneagrama também significa para o tipo 9 colocar-se no centro das atenções, investir em sua autoestima, imagem e autoconfiança, adquirir a vontade necessária para empreender projetos próprios. Significa também promover-se, vender-se e lançar-se como protagonista focado em suas conquistas pessoais, tomando as rédeas de sua vida.
É importante salientar que esse movimento de voltar-se para si e colocar os próprios sonhos como prioridade costuma ser difícil para o tipo 9, que em geral tem dificuldade em enxergar qualquer conquista que não envolva outras pessoas ou que não venha de uma demanda externa (família, empresa, sociedade). Às vezes, é difícil para ele até mesmo tomar consciência de sonhos exclusivamente seus, que não envolvem outras pessoas.
Em um segundo momento, deve haver no tipo 9 um movimento para o ponto 6 do Eneagrama, um mergulho em pensamentos de análise e questionamentos por meio do uso positivo da inteligência mental. Isso significa adquirir o hábito de colocar sua opinião nas discussões, contestar os demais quando necessário e sustentar seu ponto de vista individual. Cabe aqui também o uso do planejamento estruturado, a criação de um plano de ação que permita colocar em prática todos os desejos e aspirações que costumavam ser deixados de lado em função da inércia, da indolência, do conformismo e do esquecimento de si mesmo — traços característicos do tipo 9.
Das suas asas, os pontos 8 e 1, há também aprendizados e integração a serem realizados. Da asa 8, o tipo 9 apropria-se de sua enorme energia corporal (normalmente narcotizada) e faz uso positivo dela para colocar-se em movimento, entrar em ação, confrontar quando necessário e assumir sua posição de liderança. Outro ponto fundamental aqui é a assertividade, ou seja, a habilidade de se comunicar com clareza e rapidez, indo direto ao centro da questão e evitando os rodeios, as distrações, os detalhes e as longas histórias características do tipo 9. Na asa 1, também há uma grande quantidade de energia corporal, de ação imediata e de movimento que se junta com foco, concentração, clareza e capacidade de fazer o que precisa ser feito sem procrastinação — trata-se de cumprir o dever e ponto.
Também é fundamental ao tipo 9 tomar consciência de sua narcotização, ou seja, dos momentos em que é tomado por uma sensação corporal de entorpecimento, de falta de energia, que se reflete em uma grande inércia e dificuldade física em dar o primeiro passo em seus projetos pessoais e em mudanças. Essa sensação aparece todas as vezes em que o tipo 9 é chamado a olhar para seus próprios desejos, colocar-se no foco de sua atenção, e se reflete em pensamentos de conformismo, de “deixe a vida me levar” e em distrações com prazeres secundários e confortáveis. O tipo 9 precisa romper com esse script por meio de novas atitudes.
Uma das particularidades do desenvolvimento do tipo 9 é o fato de as maiores barreiras ao seu crescimento serem de ordem corporal, ou seja, muito difíceis de serem resolvidas pelo uso da razão, da lógica ou de planos de ação analíticos — de nada adiante saber o que tem que ser feito se não há energia ou vontade para isso. Por essa razão, esse é um dos tipos para os quais é fundamental o uso de técnicas de crescimento que energizem seu corpo, investiguem seus sentimentos e conectem as suas motivações e valores mais profundos a suas atitudes, fazendo deles propulsores de sua ação.
Práticas e exercícios de desenvolvimento
As práticas a seguir são sugestões diretas para as pessoas do tipo 9. Se você é desse estilo do Eneagrama, vai se beneficiar enormemente com a adoção de uma ou mais delas como rotinas de desenvolvimento, de modo que passem a fazer parte de sua agenda no dia a dia. Crescimento não é uma tarefa difícil, mas exige, sim, compromisso e priorização:
- Identifique suas prioridades atuais (pessoais e profissionais) e crie um plano de ação direcionado para a realização desses projetos prioritários. Essas prioridades e os próximos passos do plano devem estar visíveis, de forma clara e destacada, nos ambientes pelos quais circula.
- Crie quadros de visualização para cada um dos projetos prioritários, representando-os com imagens, fotos, desenhos e símbolos que sejam vivos, grandes e lembrem, a cada instante, desse objetivo a ser atingido. Esses quadros devem estar espalhados em casa e no trabalho, dependendo da natureza dos projetos em questão.
- Manter uma agenda previamente definida com as prioridades do dia e orientar suas ações para, em primeiro lugar, cumprir essa agenda. Avaliar ao final do dia quanto conseguiu cumprir e quanto do seu tempo foi absorvido e interrompido por demandas dos outros que não estavam planejadas.
- Reserve alguns períodos da semana para trabalhar em uma sala isoladamente, com o celular desligado, focando-se em um projeto específico que depende de sua iniciativa. Esses momentos devem ser agendados como reuniões e, como tais, seguidos à risca, fazendo parte de sua grade semanal. A sugestão é de, pelo menos, dois meio períodos por semana para dedicar-se a prioridades e atividades importantes, mas não urgentes.
- Contrate um coaching para sua vida ou sua carreira a fim de lhe dar suporte para resgatar, assumir e realizar seus projetos próprios. Escolha um coach capaz de trabalhar também com dinâmicas de energia corporais e emocionais, e não apenas com raciocínio lógico.
- Desenhe em uma cartolina um círculo dividido em quatro partes iguais, como quatro pedaços de pizza. Coloque em cada parte as seguintes áreas: profissão, saúde, lazer e relacionamentos. Em seguida, atribua uma nota de 0 a 10 para o seu grau de satisfação com cada área, pintando a porção proporcional à nota em cada parte. Para cada área, defina, pelo menos, um projeto (que seja de sua escolha, e não dos outros) e uma prioridade a ser trabalhados.
- Pratique verbalizar suas opiniões, mesmo que elas gerem algum conflito. Comece com coisas pequenas, como por exemplo escolher um restaurante que você goste e insistir para que os outros o acompanhem. Esteja seguro de que essa opção é sua e não foi feita para agradar às outras pessoas. Se ninguém quiser ir, almoce sozinho nesse dia e concentre-se em aproveitar a escolha.
- Invista em marketing pessoal. Pratique falar ou escrever sobre você como um bom vendedor faria. Pergunte-se: “Em que projetos meu nome precisa aparecer mais?” Tome atitudes para essa promoção e consciência de sua tendência em diminuir sua importância diante dos outros.
- Fale sobre suas qualidades para outra pessoa uma vez por semana, no almoço. Relacione pelo menos cinco qualidades e conquistas que você está tendo nesse momento da vida. Faça isso com pessoas diferentes.
- Tome consciência dos assuntos em que tem pensado ou refletido em demasia ultimamente. De que maneira pensar demais pode estar impedindo-o de agir? O que você precisa fazer e está procrastinando? Quando dará o primeiro passo de uma vez por todas?
- Pratique diariamente perceber como sua imensa raiva narcotizada se manifesta no dia a dia. Ela começa com um incômodo no estômago. Nesse momento, verbalize, faça alguma coisa para colocá-la gentilmente para fora e não se deixe distrair ou cair no “deixe pra lá, isso não tem importância”, pois isso aparecerá mais tarde de outras maneiras prejudiciais.
- Faça exercícios físicos regularmente e, pelo menos, uma atividade de alto impacto, como lutas e determinados esportes coletivos, que exigem explosão, raiva, conflitos e grande força física.
- Olhe para sua rotina diária e perceba quais os principais artifícios que usa para se distrair de suas prioridades pessoais e de seus incômodos — televisão no final do dia? Seriados? Futebol? Cerveja? Brincadeira com as crianças? Tarefas domésticas? Sobrecarga no trabalho? Videogame? Passeios? Livros supérfluos? Problemas de outras pessoas? Estabeleça como meta deslocar pelo menos um terço do tempo gasto com isso para uma atividade prioritária para seu crescimento pessoal.
- Pratique meditação ou, pelo menos, respire com atenção no corpo dez minutos por dia. Imagine que sua energia está espalhada e pratique recolhê-la em sua imaginação, como se estivesse sugando lentamente tudo o que está disperso em seu corpo, em especial em sua barriga. Preste atenção no que sente levemente na superfície do seu corpo quando isso acontece e também no que acontece com a sua disposição.
- Pratique respirar na barriga e usá-la como centro de energia.
- Perceba se há algum aspecto da sua saúde física que está sendo negligenciado. Faça check-up e monitore o peso.
- Valorize-se profissional e pessoalmente. De que maneira você tem se desvalorizado? O que fará de diferente? Assuma publicamente esses compromissos.